domingo, 19 de março de 2017

CINEMA: A Bela e a Fera (Por Ricardo Brandes)




Sabe aquela história de um príncipe encantado, uma princesa, um castelo mágico e uma maldição de uma rosa? Após a clássica animação infantil da Disney de 1991 e a versão francesa (mais adulta) de 2014 com Léa Seydoux e Vincent Cassel, a Bela e a Fera ganha agora uma releitura em  live action 3D, novamente no padrão Disney.



Com direção de Bill Condon (Crepúsculo: amanhecer I e II), Emma Watson como Bela e grande elenco, o filme já teria motivos suficientes para atrair um grande público aos cinemas. Mas, será que cumpre sua missão com maestria? Será que todo o marketing com o novo trabalho da Disney farão valer o ingresso?

O filme segue a linha da história original, já bem conhecida do público, com a Bela (Emma Watson), habitando uma pequenina aldeia medieval na França, sendo cortejada por um pretendente (Gaston) o qual não tem interesse, enfrentando os dilemas da vida com seu pai. Aí surge o castelo mágico, a fera (o príncipe), a rosa e sua maldição, mantendo-se na linha da animação de 1991 sem grandes novidades.



A partir daí, fica clara a falta de identidade do filme, que com a fraca direção de Bill Condon luta para se definir entre um musical e animação, sem conseguir  uma definição clara de estilo, transformando-se em uma sombra dos trabalhos anteriores do diretor. (A Disney queria uma animação, o diretor insistiu em produzir um musical. E nessa queda de braços, o filme acabou saindo com clara falta de personalidade).

Um dos raros momentos realmente encantadores do filme se constrói na cena da dança entre A Bela e a Fera, que traz muita emoção ao público, de forma autêntica e verdadeira. As cenas de ação (como a dos lobos na floresta) também surgem fracas, sem a devida qualidade esperada, muito por culpa da inabilidade do diretor em comandar os momentos tensos do filme, que não funcionam como deveriam, decepcionando o público mais exigente.



E, para tentar quebrar a mesmice, a Disney acrescentou novidades na história original do filme, dando mais diversidade étnica e sexual ao roteiro: uma das maiores polêmicas fica por conta do personagem LeFou: cômico, divertido, ele canta, dança, faz piadas e... demonstra claro interesse amoroso por seu chefe Gaston. Por ser um personagem gay inserido em um filme infantil padrão Disney, Lefou acabou muito criticado. Mas, alheio as polêmicas, seu divertido e caricato papel acabou dando um toque de surpresa e novidade para o já conhecido clássico infantil.




Os efeitos especiais também se apresentam interessantes, com o uso do 3D em várias cenas, como na neve caindo sobre o público, ou a rosa que extrapola a tela, saindo para além do cinema.

Na questão das músicas, também há alguns excessos, principalmente na canção tema do personagem Gaston, que passa a clara sensação de falhas e exageros na produção, que poderiam ter sido melhor exploradas.

Já Emma Watson, no papel de Bela, tenta atuar como uma personagem à frente de seu tempo, uma jovem leitora, amante dos livros e dona de suas vontades. Batalhadora, valente, sem medo do perigo, mas que por poucas vezes consegue passar o realismo e encanto da verdadeira Bela do clássico que conquistou gerações. Faltou mais espaço para trabalhar estas e outras questões, que trariam um devido desenvolvimento da personagem, como fica claro nas cenas de Bela em sua aldeia, lendo e ensinando uma criança a ler. Ou mesmo em Paris, com a Fera, acompanhando a história do passado de sua mãe. Momentos interessantes do filme, que logo são esquecidos pela produção, sem uma devida exploração e resolução das questões propostas.  



Ewan McGregor (Lumière), Emma Thompson (Madame Samovar), Ian McKellen (Horloge), Stanley Tucci (Maestro Cadenza) e Gugu Mbatha-Raw (Plumette) – estão presentes no filme, mas só dão as caras nos momentos finais da obra, sem passar um sentimento forte aos espectadores, como fizeram seus personagens animados durante as mais de 2 horas de filme.



Assim, ao final de A Bela e a Fera, fica a clara sensação de que faltou algo para que esta nova versão fosse única e especial, como a história de amor que cativou gerações. Talvez por medo de ousar e criar algo realmente novo, a Disney tenha investido 160 milhões de dólares em um filme que certamente fará sucesso, mas deixará a impressão de ter nascido com o objetivo maior de lucro, em detrimento da tão esperada qualidade técnica padrão Disney. Como canta a canção...

“Estamos vendo alguma coisa acontecer... Shhh, lhe conto quando crescer!”

RicBrandes com a Bela e a Fera em Blumenau, SC

#amigosdoadorocinema

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