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Além de muito bem escrito, esse livro de Ricardo Brandes tem uma construção narrativa intrigante, onde as peças vão se encaixando e, por trás de vários fragmentos das vidas dos personagens, as histórias acabam se conectando e montando uma imagem só — bem perturbadora e surpreendente — que tem elementos de alcoolismo, conflitos familiares e violência contra a mulher.
Acho
difícil falar sobre a história sem dar spoiler, porque, sério, você precisa
ler. Talvez até reler, como eu fiz, para conectar todos os pontos. O livro é
composto por sete contos, mais um extra, que podem ser lidos de forma
independente (porque todos possuem início, meio e fim), mas que, se forem
ligados um ao outro, formam uma única obra sobre a temática de um
relacionamento familiar conturbado.
O
primeiro conto se abre com uma epígrafe de Álvares de Azevedo, que diz muito
sobre a premissa da obra: "Bebamos! Nem um canto de saudade! Morrem na
embriaguez da vida as dores! Que importam sonhos, ilusões desfeitas? Fenecem
como as flores!"
Depois,
no que poderia ser o derradeiro momento de um dos personagens, Claus, temos um
questionamento sobre o sentido da vida e uma viagem de pensamento insana sobre
outra personagem, Camila, ainda uma figura incerta que habita a memória dele e
se confunde com um manequim de loja (ou não).
Claus
e Camila possuem uma história, mas não sou em quem vai contá-la. O tom da
escrita é bem fluído, apesar de insólito, contendo drama, poesia e humor em
medidas equilibradas. Há alguns elementos simbólicos que marcam um ritmo
alucinante e vai requerer sua atenção: a caixa de madeira, o xale preto, a
mulher nua, a casa, o giroscópio, o choro, a fotografia. A minha interpretação
pode não ser a sua e isso é o mais interessante nessa obra que joga bem com
nossas percepções e com o psiquismo dos personagens.
"O
retrato da insanidade" é uma excelente pedida para quem quer ler algo
que fuja do convencional; algo que exercite a mente e que emocione, ao mesmo
tempo. A única coisa que você, leitor, achará ruim, será chegar ao final do
livro com aquela sensação de "quero mais". Mas isso faz parte da
leitura, porque nos incita a continuar pensando no que mais teria para
acontecer na história. E nos fazer pensar e imaginar, nos transportando para o
mundo do "e se?" é qualidade das melhores leituras. Boa viagem!
Por Fabiana Souza
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