terça-feira, 5 de janeiro de 2021

O Retrato da Insanidade (Resenha de Fabiana Souza)

 

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Além de muito bem escrito, esse livro de Ricardo Brandes tem uma construção narrativa intrigante, onde as peças vão se encaixando e, por trás de vários fragmentos das vidas dos personagens, as histórias acabam se conectando e montando uma imagem só — bem perturbadora e surpreendente — que tem elementos de alcoolismo, conflitos familiares e violência contra a mulher.

Acho difícil falar sobre a história sem dar spoiler, porque, sério, você precisa ler. Talvez até reler, como eu fiz, para conectar todos os pontos. O livro é composto por sete contos, mais um extra, que podem ser lidos de forma independente (porque todos possuem início, meio e fim), mas que, se forem ligados um ao outro, formam uma única obra sobre a temática de um relacionamento familiar conturbado. 

O primeiro conto se abre com uma epígrafe de Álvares de Azevedo, que diz muito sobre a premissa da obra: "Bebamos! Nem um canto de saudade! Morrem na embriaguez da vida as dores! Que importam sonhos, ilusões desfeitas? Fenecem como as flores!"

Depois, no que poderia ser o derradeiro momento de um dos personagens, Claus, temos um questionamento sobre o sentido da vida e uma viagem de pensamento insana sobre outra personagem, Camila, ainda uma figura incerta que habita a memória dele e se confunde com um manequim de loja (ou não). 

Claus e Camila possuem uma história, mas não sou em quem vai contá-la. O tom da escrita é bem fluído, apesar de insólito, contendo drama, poesia e humor em medidas equilibradas. Há alguns elementos simbólicos que marcam um ritmo alucinante e vai requerer sua atenção: a caixa de madeira, o xale preto, a mulher nua, a casa, o giroscópio, o choro, a fotografia. A minha interpretação pode não ser a sua e isso é o mais interessante nessa obra que joga bem com nossas percepções e com o psiquismo dos personagens.

"O retrato da insanidade" é uma excelente pedida para quem quer ler algo que fuja do convencional; algo que exercite a mente e que emocione, ao mesmo tempo. A única coisa que você, leitor, achará ruim, será chegar ao final do livro com aquela sensação de "quero mais". Mas isso faz parte da leitura, porque nos incita a continuar pensando no que mais teria para acontecer na história. E nos fazer pensar e imaginar, nos transportando para o mundo do "e se?" é qualidade das melhores leituras. Boa viagem!

 

Por Fabiana Souza

www.wattpad.com/SoulFarAway


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